quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

‘E difícil dizer adeus, quando se quer ficar…

A manha estava fria, no ar pairava uma fina neblina, uma sensação de tranquilidade e paz interior interrompida apenas pelo assobiar inconfundível do 206 Long Ranger. O abrir da porta dianteira do passageiro fez aparecer uma bela e simpática senhora. Enquanto a ajudada a colocar o cinto de segurança agarrou-me na mão, olhou para mim e entre um sorriso piscou-me o olho como quem diz “vamos a isto”.
Ao som de “Gabriel's oboe” o “Break the Rim” (entrada no Canyon com passagem vertical de 50 para 6600 p’es) era sempre um dos momentos mais aguardados, uma entrada impressionante e a mais extasiante sensação estar dentro de uma das 7 maravilhas do planeta terra. Foi sem admiração que pelo canto do olho reparei que “Mary” limpava umas lagrimas que escorriam por baixo dos óculos de Sol.
A mais de 240k/h o mágico momento foi abruptamente interrompido pelo som ensurdecedor de vento, ainda a recuperar do susto foi incrédulo que vi “Mary” que de janela aberta tentava insistentemente deitar um papel do Helicóptero abaixo. Numa fração de segundos a minha mente viajou no mais profundo filme de terror…
Ter-se-ia o diabo mascarado de velhinha simpática e entrado furtivamente no meu helicóptero? Será que recorrendo a Super Dark-Powers terá conseguido abrir a pequena janela (que supostamente estaria selada) e tentar matar-nos a todos de susto e em particular a mim do coração? J’a para não falar que deitar papeis ao chão, neste caso ao “Ar” ‘e poluir o ambiente.
O exigente treino de emergências deu-me a destreza necessária para combater a terrível forca maléfica e apos uma luta renhida de alguns minutos consegui finalmente o restabelecimento da ordem bem como o fechar da janela. Ainda que sobre o meu olhar atento, ate ao final do voo nem mais uma palavra ou gesto foram manifestados por parte da entidade poluidora do Ambiente.
Terminado o passeio e quanto me despedia de “Mary” ela agarrou mais uma vez, mas desta, ambas as minhas mãos e de olhar profundo e penetrante as suas grandes brilhantes pupilas invadiram a minha alma com uma inexplicável sensação de paz, conforto e missão cumprida. Foi apenas quando me deu um beijo que percebi que nas minhas mãos tinha deixado um pequeno papel dobrado em formato de aviãozinho, o mesmo que tinha tentado insistentemente atirar da janela abaixo. Enquanto tentava descodificar o enigma reparei que o pequeno aviãozinho tinha algo escrito, desdobrei-o delicadamente. Finalmente tudo fez sentido, o coração ficou apertadinho e as lagrimas que corriam eram agora minhas.
“Dear John,
Finally we are here in the Grand Canyon, I’m keeping the promise we made together before we know about your terminal disease. I wish you were here more than in Spirit, seeing it with your own eyes and holding my hand.
Love, Mary”

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